Liberdade temporária
Está escuro. Chove torrencialmente e passeio-me descalça por um caminho relvado. Os mes pés, irregelados, saboreiam a frescura da relva e a dureza da pedra, e gordas gotas de água aterram no topo da minha cabeça. Sinto-me livre, depois de muito tempo enclausurada. Finalmente esqueço-te durante uns minutos. Abençoados minutos! Tudo o que me provocaste sem saber mergulha-se naquele mar de gotas (voltará mais tarde, mas não quero saber agora). Percorro o caminho silenciosa e feliz, para uma casa que me guarda o jantar.
Erik Johanson
Linguagem: o eterno problema
Ou sou muda, ou os outros surdos. Talvez os dois. Talvez seja igualmente surda, não sei.
Talvez seja mais um palhaço no jogo eternamente hilariante da vida.
Talvez seja mais um palhaço no jogo eternamente hilariante da vida.
As Palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
Segurador de bilhetes de comboio
Dunno
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